domingo, 16 de agosto de 2015

Operação «Elo em Loulé» (1/3): Oporto Open 2015




Entre Outubro de 2014 e Junho de 2015, para sedimentar conhecimentos e potenciar a evolução na nossa introdução ao xadrez, cujos treinos se encontram resumidos aqui no blogue,  participámos em alguns torneios locais, desde o I Open de Alte ao Torneio de Preparação da Selecção da Associação de Xadrez de Faro, passando pelas provas dos vários circuitos organizados pela Academia de Xadrez do Algarve.

Ao fim de alguns meses, já com alguma experiência adquirida, decidimos aumentar a parada e pôr a nossa força de jogo à prova em torneios onde nunca seríamos, claramente, favoritos. A ideia era defrontar adversários mais fortes com os quais pudéssemos testar a nossa evolução e, quem sabe, conseguir obter uma pontuação elo, ou seja, passar a ser classificados no ranking mundial da Federação Internacional de Xadrez (FIDE).

Apesar de serem objectivos pessoais, o facto de em Loulé surgirem mais atletas com elo permitirá que, nos torneios locais da próxima época, outros xadrezistas iniciantes do Algarve possam também ter a oportunidade de lutar pela entrada no ranking internacional, o que poderá ajudar a sedimentar a prática do xadrez numa região que actualmente tem apenas 3 clubes e cerca de 50 jogadores filiados.


Com estes objectivos em mente, o primeiro louletano a lançar-se às feras foi o António Martins que, em representação da Associação Cultural de Alte, participou no Oporto Open 2015.

Este torneio foi organizado pelo Grupo de Xadrez do Porto - o clube mais antigo da Península Ibérica dedicado exclusivamente ao xadrez e com actividade ininterrupta desde 01 de Maio de 1940 - para comemoração do seu 75.º aniversário, com o apoio da Associação de Xadrez do Porto que fez este ano 70 anos de existência.



Visita do Campeão do Mundo Alexander Alekhine ao Grupo de Xadrez do Porto, em 01/09/1941.



Visita do Campeão Distrital de Faro, escalão sub-16, ao Grupo de Xadrez do Porto, em 15/07/2015 :)
[foto: Carlos Oliveira Dias]

O António ainda foi a tempo de sentir a magia da sala do GXP que brevemente mudará para novas instalações. Além de empurrar madeira, houve também oportunidade para ouvir algumas estórias do xadrez nacional, a propósito de algumas das fotos e troféus que decoram as paredes e os armários, contadas quer pelos homens da casa - Mário Marques, António Silva e Sandro Fernandes - quer pelos ilustres visitantes que lá encontrámos: Carlos Oliveira Dias e Eduardo Viana.
 
 
Uma das estórias, da série "Mística GXP": Meia taça, após um 1.º lugar ex aequo, numa competição dos anos 40. Serrada e colada numa tábua de madeira "porque era o que mais faltava replicar o troféu: eles não merecem ficar com a nossa metade e nós só queremos aquilo a que temos direito. Deles? Nada.".
[foto: Carlos Oliveira Dias]
 
Uma breve visita mas que terá dado para o António ficar com uma pequena ideia do motivo ("Porque d'amores não m'engano") pelo qual o Grupo de Xadrez do Porto "é o primeiro clube de alguns e o segundo de todos os outros". 


Pormenor da sede do GXP.
[foto: Carlos Oliveira Dias]

Em frente ficavam os tabuleiros do Senhor Artur e do Senhor Carvalho, onde me sentei centenas de vezes, tal como a maioria dos miúdos das escolinhas do Grupo, ao longo da década de 90.

Em destaque, na foto, o cachecol dos Amigos de Urgeses, clube que em 2012 recolheu este Apaxe.


Pormenor de menos de metade da Sala Douro do Hotel Beta


Voltando ao torneio, decorreu entre 13 e 19 de Julho, no Hotel Beta, tendo participado nesta competição 158 xadrezistas oriundos de 19 países diferentes, com uma média global de elo de 1875 pontos (que sobe para 2243 se se considerar apenas o top-50 e para 2368 atendendo ao top-25), imperando 5 Grandes Mestres, 6 Mestres Internacionais, 6 Mestres FIDE, 1 Grande Mestre Feminina, 2 Mestres FIDE femininas e 2 Candidatos a Mestre.

Foi um dos mais fortes torneios de sempre realizado no Porto e nele participaram vários jogadores que constam da «Fan Zone» deste blogue: 


(o mais extraordinário caso de simbiose xadrezística que conheço,
grande referência do GD Dias Ferreira, o meu eterno clube rival predilecto. 
Qual seria a piada da competição sem bons adversários?)



(a grande referência da equipa do GXP, na qual tive a honra de, durante algum tempo, ser suplente.)



(o big boss dos Amigos de Urgeses)




 MF Pedro Eugénio Torres 
(recente companheiro do Ajedrez Esuri, o meu clube na vizinha Ayamonte.
Ladeiam-no a MF Mariela Borrego, também do Esuri e da nossa Fan Zone, e o MF Ismael Puente, do Alekhine Espartinas, que também jogou o Oporto Open 2015.


E quem também joga em Sevilha no Alekhine Espartinas é o CM Pedro Torres, pai do MF Pedro Torres, na foto, em segundo plano, a jogar de negras contra mim na 1.ª jornada. 
Em primeiro plano, de brancas, o sportinguista Miguel Silva.) 


Entre os participantes estava também o


 
André Ventura Sousa 

que em 2009... 


...já era mais professor que aluno na turma dos Domingos do GXP. 


O António pertencia ao grupo de 10 jogadores que ocupavam os últimos lugares do ranking inicial da prova, por não terem elo, enquanto que os meus 1874 pontos me colocavam na 74.ª posição. 

A prova foi bastante competitiva, tendo terminado com sete jogadores com a mesma pontuação de 7 pontos em 9 possíveis. Os critérios de desempate deram a vitória ao GM Kevin Spraggett, canadiano há muito radicado em Portugal, completando o pódio o portuense MI Jorge Viterbo Ferreira (#jorgievskyrulez!) e o MI polaco Krystian Kuzmicz.
 

 
A iniciativa do Grupo de Xadrez do Porto, lançada pelo seu Presidente, Joaquim Brandão de Pinho, e personalizada no convite efectuado a todos os amigos xadrezistas, exigiu um invisível mas laborioso trabalho de preparação para junção de vontades, energias e apoios que cobrissem a grande aposta, também financeira, efectuada nesta celebração.
 
No final, todo o trabalho foi recompensado com um evento que decorreu de forma amigável e sem percalços, graças também ao excelente desempenho da equipa técnica do torneio:


O Mário Marques, vice-presidente da Assembleia Geral do Grupo de Xadrez do Porto, deu a cara e coordenou os esforços dos restantes dirigentes e associados do GXP.

O Jorge Guimarães elaborou as crónicas diárias do torneio, realçando as melhores partidas e os principais acontecimentos (link no final).

O Árbitro Internacional Carlos Oliveira Dias liderou a equipa de arbitragem composta também por Eduardo Viana, Nuno Andrade e Rogério Oliveira.

E o Fernando Ventura criou e manteve o site do torneio que estava perfeitamente adaptado às plataformas móveis.
 


O AI Carlos Oliveira Dias e o Director Executivo da FIDE Geoffrey Borg

Quem também fez uma visita surpresa ao Oporto Open 2015 foi o CEO da FIDE Geoffrey Borg que se encontrava de férias em Portugal. Após contactar o seu amigo Carlos Oliveira Dias, que estava a liderar a equipa de arbitragem do torneio, compareceu no local de jogo, onde voltou para participar na cerimónia de entrega de prémios. Entretanto...



... Joaquim Brandão de Pinho (1800), Presidente do GXP, e Geoffrey Borg (2400), na visita deste ao Grupo de Xadrez do Porto que terminou com duas partidas rápidas cujo resultado não foi divulgado... :)


... até porque havia pressa em ver o que o muito que o Porto tinha mais para mostrar:



Antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto...






"Portus Cale - Tripeiro eu sou"


Regressando ao tabuleiro, que nem só de turismo vive um Open de Verão, infelizmente só tivemos possibilidade de jogar 8 das 9 partidas, mas mesmo assim os objectivos foram alcançados: 

- Eu regressei a casa, revi muitos consócios do Grupo de Xadrez do Porto (o enorme Mestre Álvaro Machado, com a simpatia e a juventude do costume; o Senhor Brandão, o meu presidente-treinador-colega de equipa-motorista durante a década de 90; o Senhor Pintor, que imprimiu grande dinamismo à Associação de Xadrez do Porto, à qual presidia nos primeiros anos deste blogue; o Mário Marques, o Rogério Oliveira, o Rui Mendes, o Adelino Botelho, o Alberto Ferreira, o Mário Massena, o Nuno Rosário, todos companheiros de bons momentos ao tabuleiro) e reencontrei muitos índios e cowboys - que isto dos apaxes é coisa que vem de longe: o Jorgievsky "Jojo Fast Hands" Viterbo, o Aníbal "Cowboy Bang Bang" Nogueira, o "Tony Caramez", o André Viela, o Vito..."Rino Corleone" Ferreira, o João "Jonny War & Back" Guerra e Costa, o José Veríssimo Araújo, o Simão Pintor, a Diana Nogueira, isto só para falar nos participantes dos duelos de rápidas do Moto Clube / Alpi, que a lista é tão grande que se tornaria enfadonha...

- O António teve oportunidade de participar num Open de dimensão estratosférica, quando comparado com qualquer outra prova que tenha disputado, uma excelente preparação para o seu primeiro Campeonato Nacional de Jovens que disputaria na semana seguinte. Fez 8 jogos, todos contra jogadores já pertencentes ao ranking internacional, cujos elos variavam entre os 1200 e os 2100 pontos (média de 1516), tendo alcançado três vitórias, o que lhe garantiu desde logo o acesso ao ranking internacional, independentemente dos resultados que fizesse no Campeonato Nacional. A prova serviu também para o António ter consciência de um facto muito importante para a sua evolução, que verbalizou deste modo: "A minha experiência no Porto foi muito interessante. Finalmente percebi que não vou ser GM em dois anos, mas sim em dez :)"


OPERAÇÃO «ELO EM LOULÉ»
MISSÃO I - CUMPRIDA!
  
Lista de Elo 
da  Federação Internacional de Xadrez de 
Agosto de 2015:

António Miguel Martins
1362 pontos
(14 partidas contabilizadas)

40.º melhor xadrezista com menos de 16 anos em Portugal
686.º lugar no ranking absoluto nacional
6.456.º sub-16 do mundo
111.002.º do ranking absoluto mundial.

«O caminho faz-se caminhando» :)


Para terminar, deixo as posições chave das minhas partidas durante a competição:

1.ª jornada: de brancas contra o CM Pedro Torres


Joguei 22. b5 e perdi o peão de c5 e o jogo.
Era melhor 22. Tfc1 e só depois b5.


2.ª jornada: de negras contra Óscar Puente


Joguei 20. ... f4 com ideia de f3, plano que é furado com  21. Be4..
Teria sido melhor reciclar a posição do Cavalo com 20. ... Cg7.


3.ª Jornada: de negras contra Mariana Silva


Com 7 minutos no relógio, as brancas dão o ouro ao bandido com 25. Txf4.
Se as brancas continuassem o ataque sem sacrificar a qualidade, movendo um dos peões das colunas g ou h, as negras não seriam capazes de se defender, já que as suas peças estão muito afastadas do Rei.


4.ª jornada: de brancas contra Alfonso Basa


Optei por 10. Ce4, sacrificando o peão de e5 com a compensação de as negras ficarem com vários peões dobrados e o Rei no centro. O ataque nunca surgiu e saquei um empate com a posição de Philidor.


5.ª jornada: de brancas contra Mercedes Reino


Com cada jogador com menos de 5 minutos para fazer 10 lances, a minha jovem adversária falhou uma continuação em que ganharia um peão e depois, sob pressão, a 6 distantes lances do controlo de tempo, jogou 35. ... fxe5, abrindo várias auto-estradas para a casa f7, o que lhe foi fatal (Tc1-f1+-f7). Com 35. ... Bxg4, a posição das negras seria menos confortável, mas não estaria perdida.


6.ª jornada: de negras contra Ruben Freitas


Segunda partida do dia. A anterior durara das 15:00 às 19:00 horas, esta começou às 20:00.
Com pouca energia, o empate foi acordado ao 26.º lance, com a posição igualada mas com muitos erros para fazer muito xadrez para jogar. Não consigo gostar de rondas duplas.


7.ª jornada: de brancas contra Adelino Botelho


«Keep Calm & Peão p'rá Frente»

23. d6 e esperava, na pior das hipóteses, actividade na ala de Dama pelo peão; ou uma promoção a Dama em d8 ou c8, no melhor dos cenários. Só o abandono das negras impediu o segundo.


8.ª jornada: de faca e garfo contra a gastronomia da Benedita


Perdi, por abandono, após horas, horas e horas de luta.
Bib'ós noibos!!


9.ª jornada: de negras contra Pedro Mendes


Curto-circuitei ao lance 24.
Umas jogadas atrás respondera a 21. f4 com Cxf4 e a 22. Thf1 com Cxe2, com ideia de, após 23. Dxf7+ Rh8 24. Dxe7, continuar com 24. ... Cc3+.
No entanto, quando chegou a hora da verdade, não voltei a descobrir a melhor continuação: que depois de Txa2, a Dama entraria em b3 com mate.~

[24. ... Cc3+ 25. bxc3 bxc3+ 26. Cb3 a4 27. Tf7 axb3 28. cxb3 e agora Txa2 29. Rxa2 Ta8+ 30. Rb1 Dxb3#]

Devido a esta falha de cálculo/visualização, joguei então 24. ... Tf8 e apesar de ainda ter tido chances de empatar um final de Cavalo contra peões, acabei por perder a partida.
 
* * *
 
Mas para ver xadrez a sério...
 
http://docdro.id/ECcWmPK
 
...o melhor é consultar o Boletim Oficial do Oporto Open, que inclui todas as crónicas diárias elaboradas pelo Jorge Guimarães com as melhores partidas, fotos e todos os resultados.
 
 
Ficando por aqui para não vos maçar mais, só posso concluir que
 


O Oporto Open 2015 foi uma excelente celebração dos 75 anos do Grupo.

Pela esmerada organização, pela competente arbitragem, pelo bom ambiente entre os participantes, pelo forte nível de jogo e por tudo aquilo que o Porto e o Norte de Portugal têm para oferecer, é um torneio que em nada fica atrás em relação aos Opens de Verão que mais gostei de jogar: XVII Cidade das Burgas, Ourense 2009; Negroponte, Chalkida 2010; Canadian Open, Montreal 2014; e o mais recente Terre degli Elimi, em Erice, sobre o qual escreverei no próximo post.

O Grupo não pode negar aos desatentos deste ano a sua



Nem à mais de centena e meia de participantes a repetição da experiência.

Novo Oporto Open para o ano, já!

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